Max Weber e o Budismo

Artigo de Arlison Oliveira, para a Revista de Estudos da Religião

Em relação ao Budismo, Max Weber explica que, apesar de não ter uma importância definitiva na Índia atual, seu grande êxito na Índia antiga, radicado em seu desenvolvimento – hoje, bem mais ampliado – na China, Tibete, Coreia, Japão etc., o qualifica como religião universal, sendo ela uma das maiores religiões missionárias da Terra. Segundo Weber, o Budismo não se vincula a um mero conhecimento especulativo, senão a um estado de paz e tranquilidade que se alcança renunciando ao mundo mediante a autorrealização; o que se busca não é a libertação para a vida eterna, mas uma tranquilidade para a morte.

Introdução: Suas Fontes Sobre o Budismo

Para compor suas análises sobre o Budismo, Weber utilizará a segunda edição de
Buda, Sein Leben, seine Lehre, seine Gemeinde [Buda, sua Vida, seu Ensinamento e
sua Comunidade, 1890] de Hermann Oldenberg, que traduziu para a língua inglesa
três volumes do Vinaya, bem como dois volumes dos Grhyastras ou ritos domésticos
e de passagem, e dois volumes de hinos védicos; todos publicados na série Sacred Books of the East, editada por Max Müller. Usufruiu também do Der Buddhismus und seine Geschichte in Indien [O Budismo e sua História na Índia, 1882], do linguista e sanscritista alemão Hendrik Kern, uma respeitada obra em torno do Budismo em seus primeiros momentos; bem como os escritos de um dos maiores especialistas em língua páli na época e fundador britânico da Pali Text Society, Thomas William Rhys Davids; além do budólogo belga e discípulo de Sylvain Lévi, Louis de La Vallée Poussin.

Weber também recorrera a muitas epigrafias como a série Epigraphica Indica, que
oferta inúmeras compreensões do cotidiano presente nas literaturas épicas, assim como se apoiou em Asoka, the Buddhist emperor of India (1901), do indólogo Vincent Arthur Smith (1843-1920), um dos melhores trabalhos sobre a história do primeiro imperador budista, e no Journal Asiatique (1899-1900), publicação do linguista e arqueólogo Étienne Aymonier (1844-1929). Já para as reflexões em torno do Budismo tailandês, olha para Le Siam ancien, do arqueólogo e etnólogo especialista em história Indochina, Lucien Fournereau (1846-1906) e à série de budologia Religions-geschichtliche Volksbücher (1905-1906).

Para a compreensão do Budismo fora da Índia, como no Tibete, Coreia, Japão,
China, Camboja e Birmânia, debruçar-se-á, além de sobre a obra de Fournereau, sobre os famosos relatos de viagem dos chineses Fa-hsien, Sung-yün, Hsüan-tsang e seus discípulos Hui-li e Yen Ts’ung, junto ao clássico I Ching, na versão inglesa do primeiro britânico a traduzir textos budistas chineses, Samuel Beal, junto ao budólogo japonês Junjiro Takakusu; e na versão francesa do sinólogo Stanislas Julien.
Segundo o indólogo alemão Heinz Bechert (1932-2005), desde 1916 houvera
inúmeros avanços ocidentais em torno da budologia, mas para Weber seria complicado acrescentar novas abordagens a partir de então, uma vez que já havia concluído Hinduismus und Buddhismus.

E uma das mais complicadas ou turvas fontes de Weber volta-se para os censos
orientalistas ingleses, em particular os de 1901, em 26 tomos, e os de 1911, em 23
tomos. Material que, apesar de maior escopo quantitativo, possui nítida versão
orientalista e de pouquíssima confiança, já que representava a máquina invasora
britânica como novo modelo de propaganda política, via censo, como até os nossos dias.

Por fim, para o budólogo da Universidade de Bonn, Karl-Heinz Golzio, deve-se
observar também o fato de as reproduções sânscritas (por parte da editora) na obra de Weber terem sofrido algumas variações em relação ao texto manuscrito do autor, tanto mecanográfico quanto ao passar pela imprensa; necessitando-se, completa Golzio, de uma revisão indológica apurada.

No entanto, isso não descaracterizou ou atrapalhou a intelectualidade e muito menos a análise weberiana, visto que, aparentemente, produziu seus manuscritos sanscritistas com o minucioso cuidado como sempre. O que dizer de seu aporte teórico, metodológico e conclusivo? Esteja ele com o auxílio ou não (e geralmente estava) dos conceitos sânscritos chave que caracterizam o pensar dos arianos.

Para o entendimento do pensamento e da sociedade indianas – em seus espaço e tempo delimitados pelo autor –, tais aportes são mais apurados e polidos do que muitos trabalhos atuais de Indologia, por estes últimos estarem na esteira do orientalismo à moda saidiana, do eurocentrismo hegeliano – raízes que ainda se alongam – ou respaldos em mera aventura e sem profundidade teórica; o que não é absolutamente o caso de Weber.

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Fonte: Academia.edu