Budistas no Mediterrâneo – artigo por André Bueno

Nesse breve ensaio, buscaremos rastrear algumas evidências sobre o trânsito de missionários budistas no Mediterrâneo Romano, no período compreendido entre os séculos I ao III EC. As passagens textuais são fragmentárias, bem como os vestígios
arqueológicos. Todavia, os budistas alcançaram certo reconhecimento pelos autores clássicos, de tal modo que conseguiram se diferenciar dos outros indianos, sendo denominados em grego e latim como ‘Samaneus’. A história do trânsito budista no Mediterrâneo insere-se no conjunto das relações desenvolvidas entre o império romano e o subcontinente indiano, no contexto das rotas euro-asiáicas surgidas após o estabelecimento da Rota da Seda.

Algumas indicações bibliográficas mais recentes podem confirmar o sentido de nossa proposta: Cimino (1996), por exemplo, conseguiu relacionar diversos vestígios materiais resultantes da relação entre Roma e os indianos. Tchernia (1995), Young
(2001), Ball (2000), Bueno (2002), Tomber (2008) e MacLaughlin (2012) descrevem amplamente as relações entre o Ocidente Mediterrânico e o Extremo
Oriente, demonstrando a amplitude desses contatos nos mais diversos âmbitos, fossem econômico, político ou cultural. Recentemente, Romanis e Maiuro (2015) organizaram uma coleção de ensaios dedicada exclusivamente às rotas indo-romanas.
No âmbito das apropriações culturais, pude analisar a formação da iconografia indiana budista (BUENO, 2014) e das representações numismáticas dos soberanos Kushans (BUENO, 2015) a partir de modelos romanos, permeados pelo diálogo intercultural que se construiu em torno dessas rotas.

Assim, o presente texto busca apresentar mais um aspecto dessa multifacetada relação entre romanos e indianos: a presença budista no mundo mediterrâneo. Como dissemos, ela é pontual, mas significaiva, tendo em vista que ela pôde ser identificada e descrita na literatura clássica. Ela se inseria no quadro das disputas políticas e religiosas que haviam se estabelecido no império, como bem analisou Greg Woolf (2009), em ensaio ao qual usualmente nos referimos. Pensamos, pois, que um relato desse gênero, embora descritivo e simplificado, pode auxiliar numa compreensão redimensionada da realidade cultural do mundo romano – e por extensão, do mundo antigo, de Ásia à Europa e África.

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Publicado na revista Hélade

Fonte: Academia.edu