Ser Bom: Ética Budista para o Dia a Dia

Por Jorge Silva, Editora Nascente.

Quando há três anos a Nascente publicou este Ser Bom, pretendia contribuir para a divulgação dos preceitos de uma religião que, apesar da sua ainda diminuta implantação em Portugal, está na base de importantes ferramentas de desenvolvimento pessoal que se popularizaram este século, designadamente a meditação e o mindfulness. O budismo constitui um manancial de práticas que visam a libertação do sofrimento e a criação de uma vida harmoniosa entre todos os seres, humanos ou não. É, pois, fundamental aprender com uma religião com mais de 2000 anos que nos pode ajudar muito a perceber o caminho correto na vida, que terá de passar sempre por traves-mestras como o respeito, a humildade, a compaixão, enfim, a bondade. Ser bom é importante porque significa ser feliz, contribuir para a felicidade dos outros e contribuir para a harmonia do mundo. Sendo bons podemos mitigar os conflitos interiores, deixar de ser fonte de choques com os outros e fundir-nos mais com a nossa essência, que é, estou convencido, eminentemente espiritual.

Este livro ajuda-nos a atingir isso. Não se pense que é um caminho fácil, mas como em tudo o que se pretende melhorar, é necessária muita prática. Um bom professor é sempre um facilitador da aprendizagem, o que é o caso do Venerável Mestre Hsing Yun, há mais de sete décadas a promover o budismo humanista.

Ficamos com esta obra mais capacitados para resolver alguns dos problemas mais recorrentes no ser humano da atualidade: controlar o corpo e o discurso; superar a ganância; vencer a ira; ter paciência perante insultos; conviver melhor com os outros; ou até gerir as finanças pessoais.  

Quando referimos o controlo do corpo, não queremos dizer mais do que prezarmos de uma forma descontraída e sensata aquilo que é a nossa preciosa e avançada ferramenta para experimentarmos o mundo. Coisas básicas como descanso, exercício e alimentação adequados.   

A ganância é, segundo o autor, «a doença básica de todos os seres conscientes». Na sua origem está a noção pouco budista de que existimos de forma independente dos outros, o que resulta na criação de desejos e apegos que só amplificam a ignorância e, por consequência, a ganância. E como a podemos superar? Através da meditação, da contemplação e de uma profunda introspeção que conduz à sabedoria, a antítese da ignorância.

Juntamente com a ignorância e a ganância, a ira é um dos três «venenos» referidos por Buda, que a reconhece em três formas: a ira sem motivo; a ira com um motivo; e a ira dialética. Este terceiro tipo é particularmente sugestivo, pois grassa nos nossos tempos de sociedade da comunicação com a facilidade com que, instantaneamente, os argumentos se esgrimem em múltiplas plataformas. É a forma de ira que surge quando alguém discorda de nós, o que, normalmente, acaba por ser uma fonte de conflito e de raiva. E qual a melhor forma de vencer a ira? Através da compaixão e da paciência.

O poder da paciência é, aliás, imenso para o budismo. Deve ser praticada com intensidade, pois propicia múltiplos benefícios: dissipa a ira; é um refúgio seguro; é fonte de muita bondade; e ensina-nos a tornarmo-nos Budas nós mesmos.

Tudo isto é fundamental para que aprendamos a conviver com os outros. Num mundo de interações, é vital para uma vida com alegria que não sejamos inábeis nesse domínio. E a generosidade é a base para um mundo harmonioso uma vez que, quando somos generosos, aprendemos a desapegar-nos das nossas posses e damos um exemplo de comportamento que é o contrário da ganância.     

Até a gestão das finanças podem ser iluminadas pelo budismo, que, ao contrário do que se possa pensar, não rejeita a riqueza. Alguns dos primeiros budistas eram mesmo pessoas ricas, como reis ou comerciantes. O importante é a forma como se gere o dinheiro, que deve ser ética e responsável. Embora a sociedade do tempo de Buda fosse muito diferente, é necessário retirar a essência dos seus ensinamentos e essa passa por duas coisas: primeiro, adquirir a riqueza de forma honesta; segundo, usá-la para ajudar os outros. Assim se cumprirá uma oportunidade material de praticarmos o desapego, a compaixão e a generosidade, pilares dos ensinamentos budistas.

Esta é, está claro, uma excelente introdução ao budismo e à criação de uma mente bodhi, ou seja, uma mente iluminada, ou, pelo menos, uma mente que busca a iluminação, algo que é de extrema importância para cada ser humano e para o mundo.

Sobre o autor

O Venerável Mestre Hsing Yun é monge budista há mais de 70 anos. Dedicou a sua vida à promoção do Budismo Humanista, que tem como objetivo dar resposta às necessidades das pessoas e integrar-se de forma perfeita em todos os aspetos da vida diária.

É fundador da Ordem Budista Fo Guang Shan, com sede em Taiwan e templos por toda a Ásia, Austrália, Europa e Américas. 

Saiba mais sobre a Buddha Light International Association em: www.ibps.pt

Este livro saiu no #1 da Revista Budismo, uma resposta ao sofrimento.

Podes ler as primeiras páginas do livro aqui…