As quatro fontes da felicidade no Budismo

Por Nádia Maciel.

Todos, consciente ou inconscientemente buscamos a felicidade suprema. De acordo com a filosofia Vedanta a liberdade consiste em felicidade eterna. O Venerável Mestre Hsing Yun escreveu que a libertação também inclui “libertar as pessoas, o que significa oferecer aos outros uma saída. Ao trabalharmos para a felicidade dos outros trazendo-lhes a fé, a alegria, a esperança e a comodidade, isto torna-se um ‘libertar’ proactivo. Nisto também se inclui o ato de ajudarmos os outros a encontrar uma solução para situações difíceis, quando prestamos auxílio, e quando damos aos outros causas e condições.”

Através do budismo aprendemos que a felicidade e o sofrimento dependem então da nossa maneira de viver. A filosofia budista ensina-nos a remover o desejo e ao fazê-lo os efeitos da infelicidade desaparecerão. A mensagem do budismo é que a intenção certa, o discurso certo, o trabalho e a fonte de sustento são para uso próprio, benefício e felicidade dos homens. Podemos viver felizes sem odiar quem nos odeia, e a sermos livres da ganância entre os gananciosos, pois uma mente com impurezas e doente é atraída para os dez tipos de mal: matar, roubar, má conduta sexual, mentir, caluniar, discurso áspero, vaidade, cobiça, má vontade e falsas crenças. Quando a ganância, a raiva e a ignorância e outros males são removidos do coração só aí a centelha ‘Bodhi’ da serenidade, paz, contentamento e perfeita felicidade pode acender.

A Saúde, o Contentamento, a Confiança e a Paz (Nirbvana) são descritos no livro sagrado Dhammapada como as quatro fontes de felicidade, pilar central da felicidade no Budismo.

A saúde é a maior forma de contentamento, uma fonte de felicidade assegurada, e o contentamento uma grande riqueza. A confiança e a fé são obrigatórias para sermos felizes. A fé é a base de qualquer sistema espiritual e a paz a mais perfeita felicidade. Nirvana é a cessação do sofrimento e a sua absoluta negação como estado puro de felicidade.

Caurs disse em 1965 que “manter o nosso corpo são é a nossa principal função, ou então não seremos capazes de acender a lâmpada da sabedoria e manter as nossas mentes fortes e claras. Segundo ele há cinco coisas que produzem condições através das quais um se pode queixar: (1) jantar opulento, (2) vício do sono, (3) ânsia de prazer, (4) descuido e (5) falta de ocupação.

Todos sabemos que uma alimentação desequilibrada e excessiva leva a doenças. Exercício e controlo alimentar são fundamentais, e os trabalhos manuais a receita para uma vida saudável e o primeiro ingrediente para uma vida feliz. A mensagem do budismo é de moderação na alimentação.

O excesso de sono é sinónimo de letargia e a letargia é a fonte primária de dor e é prejudicial ao corpo e à energia vital. Quando dormimos bem a mente é clara, inteligente, brilhante, afiada e pura. Quando dormimos mal não conseguimos realizar as nossas ações com o máximo do nosso potencial.

A ânsia de prazer é também perigosa para a saúde. Todos os que são sábios negam os prazeres do corpo, deixando a luxúria. Procuram promover sua existência, abstendo-se da impureza e levando uma vida de castidade ao não viver em luxo.

Quanto ao descuido, a mensagem do budismo é estar atento e ter consideração, agindo sempre com presença mental. Bons pensamentos são a grande fonte de energia e produzirão boas ações, enquanto que os maus pensamentos produzirão más ações.

A falta de ocupação é causadora de doenças. A ocupação é necessária para a vida e é a base do bem social. O exercício saudável e o desenvolvimento das faculdades impulsionam a felicidade, logo a falta de ocupação é má para a saúde e para a felicidade. Através do trabalho certo podemos estabelecer humanidade e felicidade no mundo.

O contentamento consiste na falta de desejo de adquirir qualquer coisa, exceto aquilo que advém por si mesmo sem esforço, e o que é absolutamente necessário para viver. O contentamento é descrito como o maior prazer da vida, logo uma maneira de alcançar a felicidade é através do contentamento. Alguém descontente será sempre infeliz. O Budismo ensina ‘Sê contente para uma vida feliz’.

Sem fé ou confiança a dúvida começa a surgir levando à infelicidade e às preocupações. Os oito passos para o caminho do Budismo são o entendimento correto, pensamento correto, discurso correto, ação correta, trabalho correto, esforços corretos, atenção plena correta e concentração correta (Thera, 1995). Para adquirir o entendimento correto um terá de ser imparcial em relação a todas as ideias e factos da vida. Pensamento correto consiste em manter os nossos objetivos e não nos desviarmos do caminho. Discurso correto consiste em dizer a verdade e evitar calúnias, discurso áspero e balbucios tolos. Ação correta consiste em não matar, roubar, adultério e beber bebidas alcoólicas. Trabalho correto consiste em ganhar a vida de um modo justo. Esforços corretos significam não deixar que maus pensamentos nasçam na mente. Atenção plena correta sublinha a importância de desenvolver a qualidade da consciência. Concentração correta é o estádio mais alto de desenvolvimento no Budismo, através do qual um consegue compreender a paz da suprema felicidade.

O budismo ensina que o homem é o principal responsável pela sua felicidade através da paz. Na literatura budista, o conceito de paz é expressado pela palavra ‘Shanti ‘e a paciência é descrita como o estado ideal do homem, levando ao Nirvana, a paz duradoura. A grande paz significa cada vez mais ascender no caminho da felicidade, assim mais em paz estaremos connosco e com o ambiente.

Uma mente resguardada e controlada conduz à felicidade, e a verdadeira felicidade é a realização da mente. Carl Jung escreveu que “a nossa visão só se torna clara quando conseguimos olhar para dentro do nosso coração. Quem olha para fora, sonha; quem olha para dentro, desperta.”

Interpretado do estudo “Four Sources of Happiness in Buddhism”, Shakya R. Journal of International Buddhist Studies, 10:2 (2019) 167-178.