A escultura budista japonesa, um estudo por Fernando Carlos Chamas

O budismo, como o xintoísmo, é um dos alicerces religiosos da sociedade japonesa.
Sua grande propagação no Japão dependeu muito da importação e enorme produção de imagens budistas que não se restringem apenas a representações do buda histórico. Por aproximadamente treze séculos, o estilo das estátuas búdicas passou por transformações que buscavam um estilo próprio japonês, atingindo o seu auge no período Heian (794~1185). Este trabalho é uma apresentação dessas transformações estilísticas e segue uma metodologia que visa a cercar o objeto “escultura budista japonesa” em todos os seus ângulos, a saber, abrangendo templos, técnicas e materiais, sua relação com a história do Japão, as doutrinas budista e xintoísta e a categoria das imagens.

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Parte I – Introdução

O imenso corpus da filosofia budista, por si, tem a capacidade de expressar uma tensão extrema entre a apreciação simultânea e o reconhecimento das limitações do real e do ideal.
Muito dessa tensão foi expressa pela escultura budista japonesa e só pode ser compreendida através dessa arte. Quanto ao Japão, além das calamidades naturais e das guerras, pode-se dizer que uma “avalanche sobrenatural” de deuses convertidos e milhares de budas e universos fomentavam essa tensão, gerando uma simbologia quase inesgotável. Mas o budismo, seja por sua natureza seja como uma consequência, tinha a arte, sobretudo visual, como um de seus principais meios de comunicação e apaziguamento dessa tensão.
As obras artísticas budistas guardam significados arqueológicos. A descrição das
imagens revela padrões artísticos de crenças existentes antes e após o surgimento do budismo.
O budismo chegou ao Japão cerca de mil anos após o lendário nascimento de Buda e no Japão foram feitas obras budistas por cerca de treze séculos. Enquanto a literatura dava vida e personalidade às imagens sagradas, as esculturas, mais do que as pinturas, imprimiam-lhes materialidade como presença encarnada e misericordiosa, com o objetivo de satisfazer, através de uma visão concreta e tangível, a crença assumida pela sociedade japonesa.
Essa Parte I tem como objetivo apresentar as categorias de imagens budistas mais
realizadas no Japão, sobretudo na escultura, descrevendo-lhes as formas características e explicitando sua história. Esse pequeno número de imagens apresentado significa as estátuas que aparecem de modo mais freqüente. No mínimo, se somarmos os deuses das pinturas que representam o cosmos budista há 1875 divindades. É claro que muitas se repetem, mas nem todas estão incluídas nessas pinturas. No entanto, apenas com um pequeno número já é possível apresentar uma configuração histórica plausível para a finalidade proposta.
Essa introdução sobre o surgimento das imagens budistas proporciona apenas uma
idéia geral do percurso das primeiras imagens. A introdução do budismo no Japão e os estilos que aí surgiram serão discutidos na PARTE III.

Fonte: Teses.usp.br